Artigo | Homenagem a Ulysses Guimarães

Por Michel Temer


“Em 1972, em um sábado à noite, eu me dirigia a um bairro pobre e distante de São Paulo para levar uma pessoa que havia me pedido uma carona. Em dado momento, passei em frente a um bar e vi na carroceria de uma caminhonete um homem calvo, discursando para 30, 40 pessoas no máximo. Parei, curioso, para verificar quem era.

Fiquei olhando, seduzido não só pelas palavras, mas pelo fato em si.

Era o doutor Ulysses Guimarães, presidente do PMDB. Pensei: meu Deus, um homem desses, às sete horas da noite de sábado, fazendo pregação para 40 pessoas num entusiasmo tal como se falasse a uma multidão é fabuloso.

Fiquei tão admirado com aquele fato singelo, mas ao mesmo tempo tão significativo e expressivo, que pensei em como é forte e saudável a vida pública. Anos depois, ingressei na política ao me eleger deputado federal constituinte, mas aquele episódio me marcou para sempre.

Reverenciar e rememorar a figura do doutor Ulysses é rememorar e reverenciar um Brasil de valores positivos: honestidade, retidão, firmeza de propósito, austeridade e caráter.

O nosso Brasil nasceu juridicamente em 5 de outubro de 1988, quando foi promulgada nossa Constituição. Nasceu um Estado democrático, um Estado participativo, um Estado que se opunha ao anterior, que era autoritário, centralizador, ditatorial.

Durante a Constituinte, atestei a força e a liderança extraordinárias desse homem público, fundamental para construir esse Brasil novo. Na verdade, falo de Brasil novo porque não fosse sua capacidade de agregação, de formulação de conceitos, de somar os contrários, não teríamos uma Constituição no Brasil.

Confesso que isso, de alguma maneira, serviu de norte para a minha vida pública. Com Ulysses eu aprendi a ouvir. Ele tinha uma paciência extraordinária de ouvir e de comandar, por sua liderança natural.

Hoje em dia, direitos individuais, democracia participativa, direitos sociais, direitos individuais foram pregações levadas adiante pelo doutor Ulysses e acolhidas por todos aqueles que acompanham sua liderança.

O elogio de Ulysses Guimarães — a quem a Câmara dos Deputados conferiu a honra máxima de batizar com seu nome o plenário em que realiza seu destino de Parlamento — é tecido por seu próprio trabalho, pertinácia e vocação.

Elegendo-se 11 vezes deputado federal, manteve espantosa coerência político-ideológica. Foi elegante nas horas mais difíceis, cordato nos momentos de tumulto, e sempre parlamentar, o que significa a capacidade de dialogar quando a negociação parece impossível.

Nunca é demais lembrar esse ensinamento do presidente mais longevo do PMDB, e que deve servir como lema para estes tempos difíceis: “Desenvolvimento sem liberdade e justiça social não tem esse nome. É crescimento ou inchação, é empilhamento de coisas e valores, é estocagem de serviços, utilidades e divisas, estranha ao homem e a seus problemas, é inacessível tesouro no fundo do mar, inatingível pelas reivindicações populares.”

Seguiremos seus ensinamentos eternos, sempre nos curvando e reverenciando sua Excelência, o cidadão brasileiro”.

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