Artigo | Pão, circo e projeção internacional


O cenário político-econômico brasileiro nunca foi tão generoso com a crítica internacional. O país que antes tentava se desvencilhar do estigma de frivolidades agora sente saudades do tempo em que suas projeções exteriores eram baseadas em praias, macacos e mulatas sorridentes.  Essas figuras simpáticas foram substituídas pelo caricato fantasma sujo e cínico da corrupção. E lá está ele, todos os dias, repetidamente, estampado nas principais manchetes mundiais.

Foram longos anos de sorrisos diplomáticos que conquistaram a empatia global, porém com um peso de consequências perturbadoras nos bastidores. Cinquenta anos em cinco – plano lançado, com questionável sucesso, por Juscelino Kubitschek, reproduzido ortodoxamente na fala de Luis Inácio, exaustivamente explorado por Dilma Rousseff. Evolução, crescimento acelerado, elevações de índices, superação… vexame. O que estragou foi justamente o bastidor, onde os números não puderam ser ignorados.

Chegamos a mais de 12 milhões de desempregados no Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Nossa moeda foi desvalorizada, sem previsão de retorno dos bons resultados. De acordo com o Boletim Focus, do Banco Central, fecharemos dezembro com uma queda de 3,48% do PIB. Para 2017, a previsão é de 0,58% de crescimento nos primeiros meses, chegando a 2% apenas em 2018.

Passados longos meses de divisões, debates, punhos erguidos e o iminente impeachment, estávamos prontos para superar, dar chance a um novo governo, com proposta mais “elitista” que seja. Especialistas apostavam, em avanço lento, porém gradual. A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) vislumbrava bons resultados nos próximos dois anos devido a maior confiança do mercado, melhores preços das commodities e queda da inflação. Mas o fantasma não descansa.

Novamente, estamos na arena, sendo engolidos pelos leões ferozes, dispostos a se aproveitarem de cada descuido (e têm muitas oportunidades) para evitar que o Brasil tenha a credibilidade que merece. As presenças nebulosas de Maia, Calheiros, Geddel, Calero, Odebrecht e tantos outros têm evidenciado que a Era Temer também não será fácil. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, admitiu que a recuperação econômica depende diretamente do desfecho da Lava Jato.

“O presidente do Brasil, Michel Temer, envolvido em novo escândalo de corrupção”, dizem New York Times, Le Monde, BBC, Times, Wall Street Journal, El País, Reuters. Não sabemos onde, quando ou como essa situação política vai parar.

Não importa o quão relevante sejam nossos produtos, quão rica seja nossa fauna e flora, quão promissor seja o potencial hídrico e energético. Seremos sempre o país que quase conseguiu vencer o termo “em desenvolvimento”. Não parece apenas uma classificação, mas uma sina. Vamos tê-la enquanto não conseguirmos ter uma política séria, com bases econômicas sólidas, investimentos adequados, iniciativas sustentáveis de combate à desigualdade e, ao mesmo tempo, com foco no crescimento econômico.



Ricardo Caldas é presidente do Sindicato das Indústrias da Informação do Distrito Federal – Sinfor-DF

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