Reforma da Previdência: quais os impactos para os nossos cidadãos e empresas?

Por Edson Jardim

Há muito tempo se fala a respeito da necessidade de uma reforma da Previdência Social em nosso país. Parece, que desta vez, há uma alta probabilidade de que ela realmente ocorra. A proposta de reforma, apresentada recentemente pelo governo Jair Bolsonaro, será submetida em breve à Câmara e ao Senado Federais. A expectativa é de que, até junho de 2019, novas diretrizes para a previdência sejam efetivamente implementadas.

Considerada essencial para o equilíbrio das contas públicas, quais os impactos da reforma na vida da população e das empresas brasileiras? O envelhecimento dos profissionais na ativa e o crescimento do mercado de planos de previdência complementar são alguns dos mais relevantes.

Certamente, a consequência mais significativa é a postergação da idade para aposentadoria. Isto significa que os cidadãos terão que trabalhar mais e será inevitável o envelhecimento da força de trabalho. Nesse novo cenário, será essencial uma revisão no planejamento das carreiras e um maior investimento em aprimoramento e desenvolvimento, pois as novas tecnologias, que surgem quase que diariamente, implicam em repensar a forma de trabalhar o tempo todo. Um ônus para os empreendedores será o aumento nos custos com benefícios que apresentam forte correlação com a idade, como, por exemplo, o seguro de vida e o seguro saúde.

Como as carreiras deverão ser mais longas, questões relativas à motivação e ao engajamento também estarão sob os holofotes, assim como o convívio entre gerações, que se tornará ainda mais evidente.

Um fator que pode ajudar nesse processo é que cada vez mais as companhias estão apostando na redução dos níveis hierárquicos. Os projetos, geralmente, já são realizados por equipes que reúnem as competências adequadas para concluí-los. Outro grande desafio para os gestores e líderes será montar times que tragam conhecimento e experiência, sem que isso implique que esse grupo pertença efetivamente ao quadro fixo da empresa.

A contratação de freelancers, portanto, é outra tendência que deve se intensificar. A principal vantagem deste tipo de profissional é a habilidade que ele possui de se encaixar na necessidade momentânea do contratante. A tecnologia aqui também ajuda muito, visto que não importa mais a cultura, a localização, a língua ou até mesmo a moeda: qualquer escritório e projeto podem caber em um smartphone.

Outra força a ser explorada neste novo contexto é o potencial dos millennials ou aqueles nascidos após 1982. Estes profissionais, que já representam uma boa parte da força de trabalho, têm características interessantes que acabam refletindo na modernização das relações de trabalho. Eles valorizam mais o propósito da empresa e não o seu lucro, contribuem para a manutenção de um ambiente participativo e valorizam aspectos relacionados à qualidade de vida. Em contrapartida, trocam de emprego com mais frequência.

Outro resultado bastante esperado com a reforma é o crescimento econômico. Todos nós estamos torcendo para que, de fato, esta expansão aconteça. No entanto, recentemente (entre 2009 e 2012), o Brasil experimentou um bom momento econômico e, ao mesmo tempo, um genuíno apagão profissional. Não ocorreram ações concretas e consistentes para amenizar essa falta de qualificação profissional, infelizmente. Talvez, a necessidade de uma aposentadoria tardia passe a ser uma solução (necessidade) para esse impasse.

Por fim, a reforma também potencializará o mercado de previdência complementar (privada). Cada vez mais, este tipo de plano terá um peso maior na composição da renda do aposentado. Com isso, as entidades e suas patrocinadoras precisarão investir com mais ênfase em sua comunicação e transparência, de forma a oferecer subsídios a cada indivíduo para uma tomada de decisão mais assertiva. Especial atenção deverá ser dada no momento da transição, sem dúvidas. Os planos atuais terão a oportunidade de rever alguns aspectos do seu desenho, tais como: idade de aposentadoria, tempo de acumulação, valor da contribuição (lembrando que, teoricamente seu valor poderá ser menor para cumprir o mesmo objetivo de nível de benefício).

Para acolher tantos brasileiros, as soluções de previdência complementar precisarão evoluir e ainda deverão buscar uma adequação à nova realidade a ser enfrentada. A inclusão do mercado informal; melhores canais e produtos para o atendimento de profissionais autônomos e freelancers; portabilidade total e a qualquer tempo, com possibilidade de duas gestões (acumulação de capital e pagamento de rendas que poderão ser diferentes instituições); amplas regras de acesso e foco em eficiência, além da redução de custos e alternativas para uma escolha mais completa, isto é, introdução do conceito de propriedade do plano (onde investir as contribuições, onde e como receber as rendas, beneficiários, valor da renda etc.) são mudanças a serem pensadas.

Concluindo, este é um importante momento para o Brasil. Além de pavimentar um caminho para um projeto de previdência social mais equilibrado para o país, esta é uma oportunidade única de reavaliar e fortalecer as relações de trabalho e, ainda, consolidar o mercado de previdência complementar. Você já refletiu sobre isso?

(*) Edson Jardim é diretor da área Atuarial da LUZ Soluções Financeiras. O profissional tem MBA em finanças pelo INSPER e é bacharel em Ciências Atuariais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ.

Possui mais de 30 anos de experiência, atuando diretamente em previdência privada aberta e fechada e planos de saúde autossegurados, além de possuir experiência nos aspectos de benefícios em fusões e aquisições de empresas.

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