Artesanato molda cultura e promove inclusão da população indígena na economia solidária

Por meio da produção artesanal principais etnias expressam suas tradições e costumes, moldam a cultura sul-mato-grossense e agregam renda.

 

 

Da agricultura de subsistência ao manejo do gado no Pantanal, dos rituais de caça e pesca ao artesanato. As atividades dos índios em Mato Grosso do Sul têm significado econômico e ganham incentivos do poder público. A presença é tão forte que Campo Grande tem quatro “aldeias urbanas” – Água Bonita, Tarsila do Amaral, Darcy Ribeiro e Marçal de Souza.

A mais antiga, “Marçal de Souza”, foi construída em casas de alvenaria, mas com arquitetura que remete às ocas, moradas primitivas. Na aldeia-bairro foi construído o Memorial Indígena, que por alguns anos mantinha expostas peças do artesanato terena.

O principal e maior parque de Campo Grande leva o nome de “Nações Indígenas” e ali está o museu Dom Bosco, que já foi denominado como “Museu do Índio” e “Museu da História Natural”.

Tijelas, moringas e vasos do artesanato terena.

Na entrada, os visitantes passam por um piso de vidro que reflete um cocar, símbolo maior do cacique, chefe de uma aldeia.

Artesanato guató.

É por meio da produção artesanal, no entanto, que as principais etnias expressam seus costumes e moldam a cultura sul-mato-grossense. Cultura associada ao cultivo de frutas, como a manga orgânica e a guavira, palmito amargo (guariroba), milho, maxixe, pimentas, pequi, macaúba, carandá e fibra de buriti, uma das matérias-primas usadas na confecção de utensílios e adornos.

Com uma das maiores populações indígenas, Mato Grosso do Sul tem larga produção de artesanato. Inclusive com peças e instrumentos tombados como patrimônios imateriais – Viola do Cocho, a cerâmica dos Terena, dos Kadiwéu e dos Kinikinawa. Esta etnia, como a Guaicuru, porém, não está entre as seis principais nações.

Artesanato kayowá-guarani.

Além de habilidade na agricultura, os Terena são bons artesãos. As aldeias mais próximas dos centros urbanos abastecem as feiras com arroz, feijão de corda, maxixe, mandioca e milho, alimentos que formam a base de sua dieta alimentar.

Em Campo Grande eles expõem e vendem seus produtos ao lado do Mercadão Municipal. Anualmente participam de concorrida exposição.

PADRÕES DA ARTE INDÍGENA

Vasos e potes produzidos pelos kadwéu.

Os terena se destacam na arte cerâmica, que tem como característica principal o avermelhado polido e o grafismo com padrões de sua cultura, com motivos naturalistas ou abstratos. A alternativa atual do artesanato terena, como meio de subsistência, se dá, principalmente, através do barro, da palha, da tecelagem – atividades que representam um nítido resgate de sua arte ancestral indígena.

A cerâmica é trabalho predominantemente feminino e algumas regras devem ser seguidas pelas mulheres. Em dia que se faz cerâmica não se vai para a cozinha, pois acredita-se que o sal é inimigo do barro. Também não trabalham quando estão menstruadas.

Aos homens cabem, por tradição na maioria das nações indígenas, somente o trabalho de extrair o barro e processar a queima, tarefas que exigem maior vigor físico. As peças são modeladas manualmente com a técnica de roletes (cobrinhas).

Chocoalho do artesanato guarani.

Os padrões dos grafismos usados pelos Terena são basicamente o estilo floral, pontilhados, tracejados, espiralados e ondulados. Eles produzem peças utilitárias e decorativas: vasos, bilhas, potes, jarros, animais da região pantaneira – cobras, sapos, jacarés -, além de cachimbos, instrumentos musicais e variados adornos.

O acabamento das peças é feito com ferramentas rudimentares: seixos rolados, espátulas e ossos. O barro é preparado misturando aditivos para regular a plasticidade: pó de cerâmica amassado e peneirado, conchas trituradas e cinzas de vegetais. Numa fase anterior são retirados da argila resíduos como restos de vegetais e pedras.

As queimas são feitas em fogueiras a céu aberto ou em rudimentares fornos, usando lenha como combustão. Os indígenas verificam o estado do ciclo da queima tilintando com um pedaço de taquara nas peças. Através do som obtido constatam o estágio da cozedura.

Cerâmica Kadiwéu

Concentrados na Serra da Bodoquena e em Miranda, onde começa o Pantanal, os kadiwéu vivem basicamente do manejo de gado, cultivo de subsistência e produção de artesanato. Usam o fogo para as duas atividades.

Artesanato guarani-caiuá.

As principais fontes de renda provêm do artesanato e do gado. Apesar de cerâmica ser a principal atividade de artesanato, os kadwéu desenvolvem também peças para decoração, produtos no traçado de palha, na tecelagem de cintas de algodão e na confecção de colares. Peças também largamente consumidas nas cidades.

Os kadiwéu convivem com uma rica fauna. Dentre as espécies comuns nas áreas habitadas pelos índios destacam-se a arara-azul, arara-vermelha e canindé, gavião real, urubu-rei, raposa, lobinho, lobo guará, jaguatirica, suçuarana, onça pintada, paca, capivara, cutia, anta, queixada e cateto.

A cerâmica kadiwéu se destaca em dois estilos diferentes. Há os padrões geométricos, abstratos, usados principalmente na pintura decorativa, e o estilo figurativo, no qual geralmente há a intenção de relatar algum acontecimento importante para a tribo.

Os mais apreciados são os vasos com a geometria característica. Usam em seus trabalhos argilas de diversas cores: preta, branca, vermelha e amarela. Com algumas delas fazem engobes para serem usados na decoração das peças, visando a obtenção de cores contrastantes e realces pictográficos. Na decoração das peças usam o urucum para obter a cor vermelha e o genipapo para produzir a tinta preta, mesmos produtos usados para pintar o corpo nos rituais.

Outras etnias

Os kinikinawa desenvolvem também um rico artesanato em cerâmica. Sua característica principal é a maior utilização da argila, tornando os objetos mais espessos e pesados.

Eles produzem ainda artesanatos em cestaria, tecelagem, adereços, colares e pulseiras de semente de amoreira, pindo (palmeira considera sagrada pelos guaicurus) e cocares de pena de galinha e pássaros da região.

Utensílios e instrumentos musicais do artesanato guarani e terena.

Já os kaiowá-guarani desenvolvem em seu artesanato principalmente o arco e flecha, cestas de palha cipó imbé e colonião, penachos, entre outros materiais e utensílios.

Os kaiowá se concentram na maior Reserva Indígena do estado, em Dourados, mas há comunidades Kaiowá-Guarani (se grafa também Guarani-Caiuá) espalhadas por toda fronteira sul.

As Nações indígenas de Mato Grosso do Sul

  • Ofayé Xavante – Donos de um território que ia do rio Sucuriú até as nascentes dos rios Vacarias e Ivinhema, com mais de cinco mil índios, a nação Ofaié Xavante se resume hoje a 50 pessoas, em uma reserva no município de Brasilândia.
  • Kadiwéu – Durante centenas de anos dominaram uma extensão do Rio Paraguai e São Lourenço, enfrentando os portugueses e espanhóis que se aventuravam pelo Pantanal. Habitam os aterros próximos às baías Uberaba, Gaiva e Mandioré.
  • Guató – Os guató, conhecidos como uma grande nação de canoeiros, conseguiram recuperar nos últimos anos uma pequena parte de seu território com a demarcação da Ilha Insua ou Bela Vista. Agora confinados na própria cultura, isolados, porém semi-urbanizados na Aldeia Uberaba, a 350 quilômetros de Corumbá, no coração do Pantanal.
  • Guarani – Remanescentes dos ervais da fronteira com o Paraguai e com uma área superior a dois milhões de hectares, a nação guarani, do tronco tupi, tem sua população dividida em 22 pequenas áreas em 16 municípios no sul do Estado.
  • Kaiowá – Eles vivem na região sul do Estado e no passado eram milhares ocupando 40% do território de Mato Grosso do Sul. Pertencem ao tronco linguístico tupi e é um dos únicos grupos indígenas que tem noção de seu território.
  • Terena – Agricultores, os terena estão concentrados na região noroeste do Estado e com grandes levas nas aldeias urbanas de Campo Grande. Pertencem ao tronco linguístico Aruak. Foram os últimos a entrar na Guerra do Paraguai e pode ser este o motivo de não terem sido totalmente dizimados.

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