Artigo | Trump vesus Doria e outros paralelos

João Doria vai governar São Paulo a partir de janeiro

Por José Roberto Securato Junior*


Deu Donald Trump nos Estados Unidos! O que as eleições nos EUA têm a ver com as do Rio de Janeiro? O que Trump tem a ver com João Doria? O que Trump tem a ver com a primeira eleição do Lula? O que aprendemos com Trump, Brexit, América Latina e outras surpresas (além de não acreditar em pesquisas pré-votação). Interesting times

EUA vs. Rio de Janeiro é fácil… A total falta de opção em quem votar. É a disputa do sujo com o imundo, como diz a minha avó. Muitos qualificam Trump como louco, racista, com seu discurso de “make America strong again” a qualquer custo. Mas, Hilary (ou os Clintons), esses devem muito para muita gente. “Corrupta democrata” foi o adjetivo mais brando que eu ouvi nas minhas redes sociais. Eu não sou cientista político para elaborar com propriedade sobre os “prós” e “contras” de cada candidato, mas observei o suficiente para constatar que eram duas péssimas opções.

Trump, lá, e Doria, cá, representam a vitória do antipolítico. O povo está cansado de ser enganado (ah, essa é nova, não é?). Estamos cansados de tanta roubalheira e corrupção, de fazermos os ajustes cosméticos e postergarmos o que realmente interessa. Cansados da agenda que não vai além de quatro anos (ou, em alguns casos, dois anos). Ambos foram muito convincentes com os argumentos de que eram empresários ricos (não políticos), financiaram suas campanhas e, portanto, fariam o que é certo (seja lá o que isso significa) porque eles não devem nada para ninguém. O tempo dirá!

Leiam o discurso de vitória de Donald Trump – bastante conciliador. Não sou tão velho, mas já estou me acostumando a separar campanha política de mandato político. Para “make America strong again”, Trump precisa dos mexicanos – eu realmente não acredito que ele vai fazer metade das atrocidades que falou na sua jornada da campanha política. Igual ao Lula no primeiro mandato… A prática foi bem mais branda do que o discurso, quero crer que Trump fará o mesmo e pode se provar uma boa surpresa.

Por fim, Trump pretende priorizar o “autocentrismo”, voltar às políticas para dentro, o fim do liberalismo (em excesso) e o foco no mercado interno, nas políticas e demandas internas. Como o Brexit! Eu vejo isso com naturalidade, a naturalidade da busca de um equilíbrio inalcançável entre liberalismo-intervencionismo, abertura-fechamento econômico.

Depois de um ciclo muito liberal, de muita abertura que impulsionou as economias mundiais até 2008, e com um suspiro nos cinco anos seguintes, os problemas e as crises abrem espaço para o movimento contrário, de fechamento econômico que deve ser pauta frequente nos próximos anos.

É a hora de olharmos para dentro e fazermos nossa lição de casa, tanto como pais, quanto como empresas, e nos prepararmos para o próximo ciclo de abertura política, econômica e expansionismo.

Desejo muita sorte para os EUA e ao México – eles vão precisar. Os paralelos que tracei são meramente pontuais e superficiais – uma análise mais profunda, certamente, provará que tais semelhanças  param exatamente aí. Aceito essa crítica. E o meu conformismo com a situação atual vem do fato de não termos muito que fazer, a não ser torcer…

Ofereço o meu “wishfull thinking” (ou o “querer crer”) que as coisas darão certo. Precisamos acreditar que as coisas darão certo! Que Doria saiba o que está fazendo! Que Trump é doido, mas não é burro! Que Michel Temer não vai tentar se reeleger! E que o Palmeiras vai ter, enfim, o seu título mundial! Eu só não acredito mais em pesquisa pré-votação!


*José Roberto Securato Junior é Vice-Presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo (IBEVAR) e diretor da Saint Paul Advisors

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