Brasil desperdiça mais de uma Itaipu em energia de biogás por ano

País deixa de gerar 115 mil gigawatts-hora (GWh) de energia com o não  aproveitamento dos rejeitos urbanos, da pecuária e agroindústria. Volume poderia abastecer quase 25% de toda energia consumida em 2015

Um levantamento inédito feito pela Associação Brasileira de Biogás e Biometano (ABiogás) mostra que o Brasil desperdiça por ano mais de uma Itaipu em energia que poderia ser gerada com o biogás. Os 52 bilhões metros cúbicos disponíveis desta fonte seriam suficientes para gerar 115 mil gigawatts-hora (GWh) por ano; em 2015 a maior geradora de energia do planeta, a hidrelétrica de Itapu Binacional gerou 89 mil GWh.

Em 2015, o consumo de energia elétrica no Brasil totalizou 464,7 mil gigawatts-hora (GWh), segundo a Empresa de Pesquisas Energéticas (EPE). Pelos cálculos da ABiogás, quase 25% dessa energia poderia ser gerada todos os anos com o biogás, aliviando a pressão energética na qual o país vive atualmente, mas até hoje foi desprezada pelos planejadores do setor elétrico.

Vale lembrar que a bandeira tarifaria de energia elétrica paga pelos consumidores esteve vermelha em boa parte do ano de 2015, ou seja, com taxa extra por conta do ligamento das termelétricas de maior custo. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o aumentou foi de 51% em média.

Se o biogás estivesse sendo usado, o preço da energia elétrica reduziria. Entretanto, essa fonte de energia mal aparece na matriz elétrica brasileira. De acordo com os dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) o insumo responde apenas por 0,572% de toda energia elétrica produzida atualmente. Outra equivalência energética é que o biometano – extraído da purificação do biogás – poderia chegar a uma produção anual de 28,5 bilhões m³, isso equivale a 50% do consumo de diesel do país e poderia abastecer quase 25% da frota nacional de veículos, combinando a gestão adequada dos diversos resíduos com emissão negativa de dióxido de carbono.

Para o vice-presidente da ABiogás, Alessandro Gardemann, o setor já tem regulações tanto da Aneel, como da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) que adequam o uso do biogás para geração elétrica e para uso combustível de veículos leves e pesados. “O biogás tem todas as condições de ser utilizado no Brasil e atender a necessidade crescente de energia elétrica e de biocombustíveis”.

Geração distribuída

A Aneel estima que perdas técnicas de energia no Brasil chegam a 7,5% da energia gerada. Hoje a geração de energia elétrica está concentrada em hidrelétricas e termelétricas longe dos centros consumidores, por isso grandes blocos de energia precisam ser deslocados por linhas de transmissão.
O biogás é uma forma de geração de energia descentralizada, ou seja, quase sempre onde se gera, se consome. Esse tipo de energia vem de fontes distribuídas pelo Brasil, deixando a geração mais próxima da carga, o que reduz as perdas técnicas na transmissão.

O energético pode sair da agroindústria, de resíduos sólidos urbanos, efluentes domésticos e industriais, dejetos de animais e até abatedouros. Gardemann lembra que Brasil é um dos maiores produtores de proteína animal e isso deve continuar crescendo, mas esse mesmo setor enfrenta três gargalos energéticos: não há gás, energia elétrica eficiente ou lenha para termelétricas. O biometano pode ocupar esse espaço e ganhar o mercado como um todo.

“O Brasil é o maior produtor de alimentos e de etanol do mundo. Ambas atividades são produtoras de biomassa residual ou resíduos orgânicos que geram o biogás e o biometano. Também tem uma população de mais de 200 milhões de pessoas, que para viver produzem resíduos sólidos”, finaliza.

A Associação Brasileira de Biogás e Biometano (ABiogás) é uma organização fundada em 2013, com o objetivo de congregar os interesses dos vários agentes, tanto no Brasil quanto no exterior, que se dedicam ao desenvolvimento, produção e consumo do biogás e do biometano.

Tem ainda como objetivo promover a inserção definitiva do biogás e do biometano na matriz energética brasileira, através do desenvolvimento dos diversos segmentos envolvidos em sua produção, regulamentação e utilização.

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