Como não ser enganado pela mente durante a meditação

Jonas Masetti, mestre em Vedanta, orienta como utilizar a prática meditativa de forma eficiente, para ir além do relaxamento e fazer mudanças, romper traumas e conflitos internos

A mente humana é construída a partir de impressões que temos ao longo de nossa vida, como as impressões emocionais, os acontecimentos da infância, memórias de traumas e comportamentos repetitivos, que chamamos de vícios, independentemente de serem positivos ou negativos.

Diante de diversas situações cotidianas, a mente tenta refazer o caminho conhecido, realizado anteriormente. É comum, por exemplo, a pessoa se relacionar sempre com o mesmo tipo de parceiro. Ela busca alguém com quem ela possa repetir os padrões emocionais já vividos, um padrão conhecido, aprendido.

Ao fazermos um exercício de meditação, precisamos balancear e harmonizar esses padrões, os negativos, e tomar cuidado para que eles não tomem conta do nosso processo de meditação. Por exemplo, uma pessoa muito metódica pode transformar essa prática em um campo de concentração. Alguém relaxado demais pode não ter capacidade de meditar com regularidade e se justificar que não consegue realizar a prática.

A meditação é benéfica, qualquer que seja o método, à medida que produz um relaxamento para a mente e deixa o praticante com mais disposição e ânimo para viver. Mas quando há interesse em se desenvolver na disciplina da meditação, o mais aconselhável é procurar um professor que possa lhe orientar nesse caminho.

O estado de relaxamento é obtido simplesmente porque você está consciente do seu processo de pensamento, dos objetos externos, dos órgãos de percepção. A meditação em um nível mais profundo (estamos usando esse termo apenas para diferenciar do estado de relaxamento inicial) é onde o seu processo de pensar sobre o mundo conduz à meditação. Por exemplo, a pessoa começa a pensar sobre o vizinho, alguém com quem tem um conflito, e inicia o processo de meditação com um sentimento de raiva em relação a ele, mas pensando sobre a outra pessoa, as necessidades dela, porque ela é do jeito que ela é, você consegue encontrar um amor por ela.

A esse segundo tipo, chamamos de uma meditação profunda porque o praticante permanece com a consciência no mundo exterior, mas, ao mesmo tempo, relaxa. Isso permite ao praticante manter-se em estado contemplativo, mesmo depois de terminar a prática.

Queremos reforçar que para se desenvolver na prática da meditação e utilizá-la para grandes transformações, é importante que seja conduzida por um mestre que possa conduzir esse processo, senão o praticante apenas vai reescrever aquilo que já sabe.  É possível desconstruir o estado de tensão e estresse, que o mundo exterior nos impõe e atingir o relaxamento com práticas meditativas de diversas técnicas. Mas não se consegue realmente fazer mudanças significativas, romper traumas e conflitos externos.

O mestre tem conhecimento para conduzir o praticante a esse estágio de transformação, para que se possa fazer um trabalho de desconstrução das impressões e crenças negativas, reformulando a filosofia de mundo do praticante. Dessa forma, o praticante tem a oportunidade de corrigir sua forma de pensar, que é o que produz o sofrimento, quando não está em meditação e tendo de lidar com o mundo.

Imagine uma pessoa muito ciumenta, que luta contra o ciúme para poder ter um bom relacionamento, com a mente normal dela e lutando contra essa tendência, ela vai levar a vida inteira para conseguir lidar com o esse sentimento. Percebemos que, na prática, as pessoas não mudam seu modo de agir, porque a mudança de comportamento feita no estado acordado leva muito tempo. Em estado meditativo, entretanto, em poucas sessões ela se livra, muitas vezes, de um padrão de ações atitudes que vinha se repetindo por uma vida inteira, em pouco tempo.

Para o praticante de meditação que atinge estados mais profundos e tem o propósito de mudança, de transformação, os benefícios do exercício conduzido por um mestre são enormes. Permite à pessoa modificar a personagem que é, o crescimento e a evolução.

A meditação na tradição Vedanta dura 1 muhurta, ou 48 minutos, período ideal de concentração e absorção da prática. Mais do que isso não é necessário, porém leva alguns anos para a pessoa meditar durante esse tempo de uma forma realmente relaxada e entregue. Indicamos que se faça a prática meditativa uma vez ao dia, ao nascer do Sol, normalmente antes das 6h. É comum que as pessoas exagerem o tempo de meditação ou fazendo exercícios difíceis para a mente com repetição de mantras e normalmente essas repetições cansam a mente, em vez de ser algo que ela termina a prática com disposição para viver o seu dia, é algo que ela precisa descansar depois para voltar ao estado relaxado.

Pode-se ouvir música para meditar, mas esse método só contribui em estágios iniciais, quando a pessoa não consegue relaxar a mente sozinha, então ela se distrai com a música e consegue relaxar. O meditador avançado não vai escutar a voz do mundo exterior, não importa se é um mantra ou uma música. Na tradição Vedanta, a que seguimos, recomendamos que a meditação seja feita por meio da voz do mestre, do professor, que vai conduzir a prática por todo o período meditativo.

 

Perfil Jonas Masetti

Jonas Masetti, chamado na Índia de Vishvanatha, brasileiro, tem 36 anos, e é mestre em Vedanta – estudo milenar do autoconhecimento. É discípulo do Swami Dayananda Saraswati, considerado o maior mestre de Vedanta da atualidade, tendo vivido por quatro anos na Índia, onde se formou Mestre em Vedanta pelo Ashram do Swmi Dayananda em Coimbatore em 2013.

É formado em engenharia mecânica pelo IME (Instituto Militar de Engenharia), foi sócio fundador da Morning Star Consulting, onde atuou no mercado financeiro e de multinacionais como consultor de negócios. Sua empresa chegou a ser uma das maiores na área de consultoria em gestão e estratégia para grandes empresas, chegando a ter 100 funcionários em 2003. Apesar de todo o sucesso profissional, Masetti buscava uma resposta e se manteve firme neste propósito, passando por diversos grupos e professores, até chegar à Índia.

Fundou em 2013 o Vendanta.Life, instituto de espiritualidade, que tem por objetivo ser um agente transformador de pessoas para a construção de um mundo melhor para todos por meio da disseminação do Vedanta. O Instituto agrega uma comunidade com mais de 30 mil pessoas e mais de 400 alunos regulares. O conhecimento do Vedanta é disseminado por meio de aulas online, usando tecnologia de ponta, que permite alcançar alunos em outros países, tais como Estados Unidos, Portugal, México e África, bem como pessoalmente em eventos pontuais e retiros espirituais junto à natureza ou dentro de ambientes empresariais, focado aos líderes das companhias.

Sobre o Vedanta

Vedanta é o nome do estudo realizado a partir do final dos Vedas – quatro escrituras básicas da cultura hindu, que deu origem ao conceito de autoconhecimento. Na sua etimologia o termo vedanta possui dois significados: ‘aquilo que se encontra ao final dos Vedas’, pois ‘anta’ em sânscrito significa ‘fim’; e também, ‘o conhecimento final’, já que a palavra ‘veda’ também significa simplesmente ‘conhecimento’.

O estudo consiste em uma mudança cognitiva, a correção de uma visão sobre o mundo e si mesmo. A visão errônea é a causa do sentimento de limitação, impotência e incompletude, que é básico em todo o ser humano.

Desse modo, Vedanta não é considerada uma religião. O conhecimento proposto se dá pelo uso de um meio externo ao sujeito. Assim como a ‘olho nu’ não somos capazes de ver a si mesmo, ninguém é capaz de ‘ver’ o ‘eu’. Portanto, Vedanta é como um espelho: funciona como meio de conhecimento para aquilo que não podemos ver sozinhos.

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