Informação & Tecnologia | A quem querem enganar?

A Operação Lava Jato tomou tamanha proporção que gera efeitos até na indústria cinematográfica. O filme, lançado recentemente com grande bilheteria, ainda poderá render um bom dinheiro aos seus investidores. A cada novo depoimento, o roteiro mostra que ainda há possibilidade para diversas continuações. Tem tudo para superar Star Wars em número de sequencias.

Infelizmente, a situação do país, que já não é boa, pode ficar pior a partir de 2018. Um Projeto de Lei em tramitação no Congresso nacional pretende tornar a internet uma grande aliada de pessoas corruptas e de má índole.

De autoria do Deputado Federal Luiz Lauro Filho (PSB-SP), a proposta prevê que qualquer pessoa que se sinta ofendida em sua moral poderá requerer retirada de informações a seu respeito da rede em até 48h. Os políticos em situação irregular com a justiça teriam ainda a prerrogativa do sigilo do processo de censura. Afinal, as eleições 2018 serão uma chance única para emergentes no cenário nacional.

Os argumentos estapafúrdios apresentados pelo deputado mostram o nível dos candidatos que virão por aí. Muitos rostos já conhecidos irão vestir suas caras de pau e testar, mais uma vez, a ignorância da população. Outros terão oportunidade grandiosa de se deleitar na desgraça política do Brasil para fazer o seu nome.

Após a delação de Antônio Palocci, com seus 50 anexos temáticos, percebeu-se que a história vai longe. Mas, principalmente, tornou-se conhecida a ilimitada mente política capaz de pensar em saídas cada vez mais sujas para esconder informações e impedir investigações.

Todos os meios de comunicação já escolheram seus lados. Cada um defende aqueles que lhe darão mais vantajosas recompensas futuras. O partidarismo está escancarado. Não há porta aberta para debate na imprensa.

O único ambiente que se manteve democrático foi a internet. Apesar das tentativas isoladas de bloquear usuários polêmicos, ainda é um espaço aberto, onde todos observam as estratégias, inclusive as tentativas de censura, e podem se manifestar.

Quão conveniente seria influenciar na tecnologia, justamente durante o maior período de investigação de corruptos, que chega a todas as instâncias, partidos, sexo, idade. Justamente o setor com maior poder de alcance e interatividade. Justamente tão próximo ao período eleitoral.

A tecnologia não está disponível ao interesse político. Trata-se de um segmento da economia voltado ao desenvolvimento humano que vai além do controle por qualquer pessoa. Não há como embarreirar a inovação, ainda que ela sofra cortes orçamentários, boicote político, incompreensão por parte da massa.

Esse PL não irá passar. A internet não será censurada. A tecnologia não será reduzida, pois está intimamente ligada à inteligência do ser. Nós somos seres pensantes e capazes de nos desenvolver apesar dos protestos de nossos governantes.

Que democracia seria essa se não houvesse transparência nem no ambiente virtual? Que tipo de cidadãos seríamos se não nos manifestássemos contra propostas esdrúxulas como esta? A vida pública exige sujeição à aprovação dos eleitores. E assim continuará a acontecer.

Já basta de sermos eleitores medíocres. Foi a nossa leniência que permitiu chegarmos a esse cenário digno de roteiro de filme de terror. Não podemos mais apenas sorrir de propostas como esta apresentada pelo deputado de São Paulo, pois estamos dando espaço para sorrirem de nossas caras de bobos.

Ricardo de Figueiredo Caldas é presidente do Sinfor – DF. Engenheiro e Mestre em Engenharia Elétrica pela UnB. Fundador da Telemikro SA.

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