Informação & Tecnologia | Brasil chega à lanterna da Competitividade Global

Enquanto a indústria da Tecnologia se empenha em manobras para elevar (ou pelo menos manter) os resultados positivos no Brasil – gerando renda e emprego neste momento delicado da economia – no cenário internacional a imagem do país é vexatória. Para quem ainda tinha dúvidas sobre os desafios de se empreender no Brasil, o Instituto de Educação Executiva suíço – IMD divulgou neste último dia de maio, o Índice de Competitividade Global, no qual o Brasil está posicionado entre os três piores.

De acordo com o estudo, os pontos menos favoráveis e que acabaram por colocar o Brasil para brigar rabo a rabo com Venezuela e Mongólia, perpassam por dificuldade em abrir negócios, em criar ambiente favorável, e no pagamento de impostos, além de tributos incompatíveis.

Do total de 63 países, o Brasil já ocupa a 61ª colocação. O desempenho desastroso é replicado em outro comparativo, o Índice Global de Inovação da francesa Insead, no qual o país está na posição de número 69, atrás da Colômbia, por exemplo.

Assim como estes, outros indicadores têm apontado o debacle causado pela falta, ou pelo uso errôneo dos investimentos em TI. As políticas públicas estão equivocadas e, agora mais do que nunca, está explícita a falha no planejamento nacional no setor.

Enquanto o país amarga um desemprego que já alcança quase 14 milhões de pessoas, o orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações (MCTIC) é praticamente todo voltado à ciência e aos ICTs. A teoria incapaz de gerar resultados diretos e imediatos.

No Distrito Federal, a Fundação de Apoio à Pesquisa segue a mesma linha e é inoperante há anos, neste quesito. A última vez que direcionou verba para a Inovação foi há 10 anos. Dezenas de milhões de reais têm sido devolvidos sistematicamente, nos últimos anos, aos cofres públicos por incapacidade de investi-los adequadamente.

As propostas de subvenção mais recentes da FAP/DF foram para as Startups, que participaram de um processo de seleção para receber duas subvenções, uma de R$ 4 e outra de R$ 8 milhões. Entretanto, o departamento jurídico da própria Fundação impediu o repasse da verba (uma ação que ocorreu por diversos anos sem nenhum impedimento), problema finalmente reparado no mês passado, porém limitado às micro e pequenas empresas.

As médias e grandes empresas continuam à margem. Nenhum projeto recente foi feito com vistas a apoiar o empreendedor que emprega em sua localidade. Pelo contrário, como foi citado na pesquisa sobre Competitividade Global, esse empreendedor recebe como retribuição pela sua participação na economia mais tributos e menos mercado.

Na outra ponta, há mais de uma década os Fundos Setoriais de Ciência e Tecnologia são contingenciados todos os anos pelo Tesouro Nacional. Como ser empreendedor num país onde os recursos previstos em lei são negligenciados? Como ser empresário quando a Ciência prevalece sobre a Tecnologia e sobre o mercado?

O Índice de Competitividade Global deste ano reflete a errônea diretriz da política de C&T nacional neste início de século, são sete anos consecutivos de uma queda de 23 posições e que agora chega ao ponto mais crítico, à lanterninha do campeonato.

É um retrato que os cidadãos muitas vezes deixam de observar por não conhecer o impacto direto que têm os investimentos em Ciência e Tecnologia sobre o bem-estar social. Enquanto usarem o dinheiro público apenas para gerar “paper” e acumular conhecimento sem prática, a imagem e o desenvolvimento do país estarão comprometidos. O mercado global tende a buscar outras soluções para suas demandas e nossa Tecnologia deixará de ser sequer relevante, pois competitiva, já vimos que não é.


Ricardo de Figueiredo Caldas é presidente do Sinfor – DF. Engenheiro e Mestre em Engenharia Elétrica pela UnB. Fundador da Telemikro SA.

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