Informação & Tecnologia | O Parque da Bioeconomia e a reunião chapa branca

A mudança na condução do projeto do Parque Tecnológico Capital Digital, que sofreu deturpações graves nos últimos dois anos, expôs a instabilidade que cercará todo processo de viabilização do espaço. A perturbação dos objetivos iniciais e a instabilidade dos gestores culminaram numa situação que nunca imaginamos: o desinteresse do público alvo.

A proposta foi apresentada na última semana para empresas e sindicatos da indústria do DF, inclusive da chamada “Bioeconomia” – a nova aposta do governador Rollemberg. Oitenta marcas nacionais e internacionais – a maioria de grande porte – foram convidadas para um encontro onde deveriam ser discutidos os últimos tópicos inerentes à projeção do local, mas apenas uma dezena compareceu: as governamentais Embrapa, Senai, MCTIC, Sebrae, GDF, UnB e as empresas privadas Siemens, Natura, Cedro Capital e A5 Partners –  estas últimas por talvez serem palestrantes do evento.

Na data agendada, apareceram cinco dos presidentes de sindicatos ligados à Federação das Indústrias do Distrito Federal (Fibra), entidade responsável pelo evento; autoridades locais, cuja participação se limitou à abertura e considerações iniciais; do setor de TIC apenas duas empresas, que por sinal eram palestrantes do evento: uma de São Paulo, cujo produto é a criação de software especializado em agronegócio e a Siemens; além de dezenas de funcionários do GDF. O Governo Federal enviou representante.

Um investidor presente – A5 Partners –  fez a pergunta que todos gostariam de ter feito: cadê o empreendedor? Falou-se da infraestrutura, dos aspectos financeiros, do terreno, da Embrapa…, mas não se falou sobre o principal tópico. Lógico que todos sabíamos a resposta. O empreendedor ainda não entendeu qual será o seu papel.

A condução do encontro ficou a cargo do presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), mostrando quem será o verdadeiro “dono do pedaço”. Mais uma vez, a Embrapa foi colocada como empresa âncora, em um espaço que deveria ser de Tecnologia da Informação. A TI passou a ter protagonista dentro do espaço que lhe era cativo. Aproveitam-se da transitoriedade da tecnologia para maquiar o usufruto do Parque, que está mais próximo de se tornar um centro comercial ou de pesquisas.

O resultado do encontro é que estamos de volta à estaca zero. Retrocedemos à época da Lei Complementar que criou o Parque Tecnológico, cujo escopo esclarecia os objetivos e metas definidos por um grupo de profissionais que se dedicaram ao processo de forma séria e tecnicamente correta. Ou seja, não vai sair do papel tão cedo.

A previsão do GDF é de início das obras em março de 2018. Mas o que será construído? Para quem? Em que condições?

A lição que se leva é que, após tanto esforço para incluir no projeto a Biotecnologia ou, agora, com o novo batismo deste evento, a Bioeconomia, as empresas não se interessaram ou não querem dialogar sobre o assunto. A expressão de tédio que pairou nos rostos dos funcionários do GDF convidados a ocupar uma cadeira vazia no salão e a debanda das autoridades do evento deixaram claro que o Parque é um sonho do setor de TIC, que foi colocado em segundo plano. O protagonismo agora é igualmente vazio e sem empolgação. Ou seja, o Parque Tecnológico, está longe de existir efetivamente no DF.


Ricardo de Figueiredo Caldas é presidente do Sinfor – DF. Engenheiro e Mestre em Engenharia Elétrica pela UnB. Fundador da Telemikro SA.

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