Museu Histórico Nacional recebe acervo de remoção da Vila Autódromo

O processo da remoção de centenas de famílias da Vila Autódromo e a resistência de parte delas, que conseguiu ficar no local, serão retratados em exposição permanente no Museu Histórico Nacional do Rio de Janeiro. Em uma cerimônia, ocorrida na quinta-feira (18), o acervo foi incorporado à coleção do museu. São peças que narram a história da comunidade e o que ocorreu durante o período das remoções. A vila fica ao lado do antigo Autódromo de Jacarepaguá, na zona oeste da cidade, que foi demolido para a construção do Parque Olímpico da Barra.

A pesquisadora do Museu Histórico Nacional, Aline Montenegro Magalhães, disse que a exposição, que será inaugurada até o fim deste ano, permite que vestígios de antigas remoções, como a do Morro do Castelo, ocorrida na década de 1920, dialoguem com os processos de desocupações recentes.

“Então, agora, a gente está tendo a oportunidade que este acervo, do início do século [passado], dialogue com o acervo de um outro processo de remoção. Infelizmente esses processos não acabaram, continuaram envolvendo a expulsão das pessoas dos seus lugares de moradia. São processos sempre muito tensos e problemáticos, né?”.

O Morro do Castelo ficava localizado na região central da então capital do país e teve a sua desocupação concluída em 1921, pelo prefeito Carlos Sampaio, com a remoção das pessoas pobres que residiam em cortiços e antigos casarões, ao mesmo tempo em que

várias obras estavam sendo executadas no centro da cidade para a Exposição Comemorativa do Centenário da Independência do Brasil. A desocupação do Morro do Castelo enfrentou forte oposição dos intelectuais da época.

De acordo com a pesquisadora, o que restou da Vila Autódromo e pôde ser recuperado será incluído ao acervo do museu e exposto na sala Cidadania em Construção, que será reformulada para receber outros documentos de grupos que fazem parte da história do país, mas que são muitas vezes, segundo Aline, “silenciados”, como as mulheres e indígenas.

“A gente está reformulando esse módulo expositivo, de modo a disponibilizar ao público objetos relativos a esses diferentes grupos na luta pelos seus direitos. E o acervo das remoções vai representar, justamente, a resistência e a luta pela manutenção do seu lugar, de moradia, de vida, enfim”.

Para a acupunturista Sandra Maria de Souza, moradora da Vila Autódromo há 25 anos, a nova coleção é um reconhecimento da luta e da vitória da resistência. “Significa que realmente a história reconheceu a importância da nossa luta, da vitória da Vila Autódromo, o quanto isso foi importante na história das remoções, da população removida ao longo da história do Rio de Janeiro”, disse.

Sandra destaca o fato do Museu Histórico Nacional reconhecer a importância da luta dos moradores. “É uma instituição de peso que reconhece a importância dessa luta, a importância da resistência e o quanto isso é importante no processo de construção da história dessa cidade mesmo, que vem removendo tantas pessoas, tantas populações ao longa da sua construção. Então, isso é muito importante”.

Das cerca de 500 famílias que moravam na Vila Autódromo, apenas 20 permaneceram no local após a transformação do Rio de Janeiro em cidade olímpica. Todas as casas da vila foram demolidas e os moradores que não aceitaram ir para imóveis do programa Minha Casa, Minha Vida ou receber indenização foram realocados em casas padronizadas construídas pela prefeitura, que também reurbanizou a região.

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