Não se terceiriza a democracia

O país paga hoje o preço de uma opção errada –e agora irreversível. Em vez de convocar novas eleições ao tirar Dilma Rousseff da Presidência, tese que defendi e fui voto vencido, optou por dar posse a seu vice, Michel Temer.

Assumiram Michel Temer e sua trupe, do segundo escalão do PT, oferecendo ao país mais do mesmo. O país tornou-se refém da agenda de sobrevivência dos que estão no poder: governantes às voltas com a Justiça e empenhados em tudo fazer para evitá-la.

O custo é alto. O Orçamento desvia-se de suas finalidades e torna-se instrumento de ação político-fisiológica –e criminosa. O resultado é o que vemos: mais impostos, mais gastos desnecessários, mais ingovernabilidade, mais corrupção.

O povo, que em massa pediu o impeachment, trocou as ruas pelas redes sociais –e de lá destila sua frustração. Ocorre que política é ação; se nada for feito, nada mudará.

É preciso que as pessoas de bem busquem ocupar os espaços públicos. Se querem sanear a política, que a abracem, candidatando-se, entrando nos partidos, criando movimentos, grupos de debate, em busca de construir propostas alternativas.

Benjamin Disraeli, primeiro-ministro britânico do tempo da rainha Vitória, dizia, com razão, que uma sociedade só tem chances de triunfar se os homens de bem tiverem a mesma audácia dos corruptos. É essa audácia que tem faltado à maioria.

Vejo ainda poucas exceções, mas que são animadoras: o Renova Brasil, movimento criado pelo publicitário Nizan Guanaes; e os movimentos oriundos do impeachment, o Nas Ruas e o Movimento Brasil Livre (MBL).

A mensagem que eles passam é de ação, ocupação da cena pública, em defesa da democracia.
Em vez de terceirizar o problema, transferindo-o aos militares, como querem alguns, é preciso investir na intervenção civil. Não pode o país, a cada eleição, votar de qualquer maneira e depois sofrer quatro anos de ressaca moral, rangendo os dentes nas redes sociais.

É o que tem ocorrido. O resultado é que a rejeição aos políticos deriva perigosamente para a rejeição à política –e sem ela não há democracia, o único regime que embute o antídoto contra os seus males: as eleições. Permite que se derrube o grupo político hegemônico de modo pacífico e construtivo.

Mas, para tanto, é preciso agir. A inércia não leva a parte alguma e tem sido o grande veneno da política brasileira.

Não adianta chorar o leite derramado. Até as eleições de 2018, não se pode esperar nada diferente do esquema que está no governo e no Congresso. Se o presidente cair, sua linha sucessória manterá o padrão herdado. No tempo que resta até as próximas eleições, é preciso que nova mentalidade se imponha, para gerar ao menos expectativa de renovação para a outra legislatura.

O Legislativo é o grande espaço de renovação. Ali estão todas as tendências políticas da sociedade. É o mais transparente dos Poderes e o que tem, além da missão de fiscalizar, a de estabelecer as regras do jogo, por meio da aprovação de leis. Diferentemente do que ocorre no Executivo, que elege só uma tendência.

No entanto, isso depende fortemente da vigilância do eleitor. E poucos se lembram em quem votaram –e menos ainda cuidam disso com a devida antecedência. Pergunto ao leitor: você já pensou em quem votará para o Congresso em 2018?

Você, que pensa com larga antecedência em quem será o técnico da seleção e na escalação da equipe, já pensou na escalação dos que irão nos representar por quatro anos, sobretudo no Congresso? Comece a pensar nisso. A democracia agradece.

Senador Ronaldo Caiado

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