Quase 60% de quem está na fila de transplante de órgãos aguardam rim

Dia 27 de setembro é o Dia Nacional de Doação de Órgãos, uma data de esperança para quem precisa de transplante

Apesar de o Brasil ter conseguido, nos últimos seis anos, um aumento gradativo no número de transplantes de órgãos realizados – em 2016 foram 24.958 -, o cálculo do Ministério da Saúde é que, em 2016, 41.602 pessoas ainda estavam na fila de espera. Mais da metade delas, 24.914, quase 60%, aguardavam um novo rim. De acordo com o mais recente boletim do Registro Brasileiro de Transplantes, no Distrito Federal, em junho deste ano, eram 247 pessoas esperando pelo órgão, sem falar de quem, como Maicon Diniton e Roberta Aguiar Pereira de Araújo, que já têm indicação para transplante e logo logo estarão na fila. Para renais crônicos como eles, o Dia Nacional de Doação de Órgãos, celebrado em 27 de setembro, é uma data de renovação da esperança de livrar-se de máquinas para retirar as toxinas do sangue porque tem crescido, ano a ano, o número de doadores de órgãos e tecidos. Até lá, o importante é seguir o tratamento corretamente e manter-se em boas condições clínicas.

O que não pode ocorrer a quem faz hemodiálise como eles é quando, finalmente for chamado para o transplante, as condições de saúde não permitirem submeter-se ao procedimento. Por isso, ambos são unânimes em apontar o quanto um tratamento de qualidade, com a individualização da terapia, tecnologia de ponta e equipe multidisciplinar, ajuda. Maicon, com apenas 28 anos, tem um longo histórico médico. Renal crônico há quatro anos e meio, depois de perder a função dos dois rins e passar um período muito debilitado, com internações, em fevereiro deste ano ele fez o tão esperado transplante. Porém, logo em seguida o rim transplantado entrou em processo de calcificação, assim como havia ocorrido com os seus próprios rins. Foi quando os médicos descobriram a origem do problema: hiperoxalúria, uma desordem genética que causa um excesso de produção de oxalato pelo fígado e que pode comprometer os rins.

Então, Maicon voltou para hemodiálise já sabendo que precisará se submeter a dois transplantes. Primeiramente, de fígado e, posteriormente, de rim. “Não adiantaria transplantar só o rim porque a origem da doença está no fígado. Mas estou confiante de que vai dar tudo certo, que logo entro na fila e consigo um doador de fígado e rim (rim e fígado serão provenientes de um mesmo doador). Por isso é importante datas como essa do Dia do Doador de Órgãos, para que mais pessoas se conscientizem da importância de manifestar aos familiares que quer doar os órgãos quando morrer”, afirma. Confiante, ele relata que desde que passou a fazer hemodiálise diária, melhorou muito. “Antigamente, fazia três vezes por semana. Agora, fazendo todos os dias, meus exames estão ótimos. Além de qualidade de vida, isso me dá garantia de que estarei em condições clínicas de fazer o transplante quando chegar minha vez”, afirma ele, que é paciente do Instituto de Nefrologia de Brasília (Ineb) na Unidade de Ceilândia.

Roberta, 36 anos, dos quais dois fazendo hemodiálise, é outra que está finalizando os exames para entrar na fila de transplante de rim já contando com a possibilidade da doação do órgão por um membro de sua família. “Como agora minhas condições clínicas estão boas e tenho qualidade de vida, posso esperar por um rim de doador falecido. Mas, se demorar muito, também há a possibilidade de um dos meus irmãos fazer a doação. O que precisa é falarmos mais sobre doação de órgãos e, assim, aumentarmos o número de doadores. E que as pessoas expressem aos parentes o desejo de doar. Afinal, é um jeito de ainda ajudar alguém depois de morto”, defende ela que também já viveu momentos de saúde muito delicados. “Há algum tempo atrás, eu estava muito mal, sem condições de fazer o transplante. Tive pneumonia, fui internada…. Mas depois, aqui na clínica, os médicos, após analisar o meu quadro, me convenceram a aumentar o número de sessões de hemodiálise de três para cinco por semana. E foi isso que mudou minha qualidade de vida. Hoje, reúno todas as condições clínicas necessárias para fazer o transplante”, relata a brasiliense.

 

Avanços para o renal crônico

Rodrigo Veiga de Oliveira, nefrologista das duas clínicas do Ineb, explica que os renais crônicos têm à disposição dois grandes avanços no tratamento. “O primeiro é a individualização da terapia, conforme a necessidade de cada paciente, ao invés do padrão de três sessões por semana. Após avaliar o paciente, o nefrologista indica a modalidade de diálise, a frequência e a duração da sessão de forma individualizada. O paciente faz o número de sessão que realmente precisa, podendo ser diária, de menor duração. Isso representa tratamento mais frequente e ainda um ganho de qualidade de vida porque o paciente consegue mais tempo para manter sua rotina diária sem grandes mudanças”, afirma.

O segundo avanço é tecnológico. “Além das máquinas de hemodiálise convencionais, nas nossas clínicas do Ineb oferecemos o moderno sistema de hemodiafiltração, que consiste em um método ainda mais eficiente de tratamento, com maior capacidade de retirar toxinas do sangue. Ao aliar maior frequência de diálise ao uso com máquinas modernas e tratamento de água e demais insumos de alta qualidade, os resultados têm sido extremamente animadores do ponto de vista da qualidade de vida dos pacientes, inclusive com redução de adoecimento e da frequência de internações hospitalares”, completa a nefrologista.

Isabela Novais, também médica das Unidades do Ineb e Coordenadora das Unidades de Transplante Renal do Instituto de Cardiologia do Distrito Federal (ICDF), comenta que uma pessoa submetida a uma transplante renal será capaz de voltar a ter uma dieta normal e beber líquidos a vontade, ganhando maior qualidade de vida e além de uma maior chance de sobrevida ao longo dos anos. Para se ter uma ideia da qualidade de vida obtida pelos pacientes transplantados, existe a Olimpíada Internacional de Transplantados, cujos tempos e marcas não estão longes daqueles da Olimpíada convencional, na qual competem esportistas que nunca passaram por procedimentos como este, afirma.

 

Entenda os rins

Os rins são os órgãos responsáveis, em grande parte, pelo equilíbrio da química interna do corpo. Eles eliminam toxinas do sangue por um sistema de filtração, regulam a formação do sangue e dos ossos, regulam a pressão sanguínea e controlam o balanço químico e de líquidos do corpo. A sobrevivência humana depende do funcionamento normal destes órgãos vitais. Como prevenção, a Sociedade Brasileira de Nefrologia recomenda que pessoas com mais de 40 anos anualmente consulte um médico nefrologista e façam os exames de dosagem da creatinina no sangue e o exame de urina.

Cuidar da saúde de forma global e ter hábitos saudáveis ajudam a proteger os rins, assim como beber bastante água. Por outro lado, doenças como hipertensão arterial, diabetes, obesidade, e hábitos nocivos, como o tabagismo, são fatores que podem comprometer a função renal. E quando os rins já não funcionam corretamente, pode ser necessário fazer diálise. Na maioria das vezes, o tratamento deve ser feito para o resto da vida se não houver possibilidade de transplante renal.

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