Salão de Abril: artistas cearenses expõem dinâmica social e urbana em Fortaleza

Uma das mais importantes mostras de artes visuais do Ceará, o Salão de Abril chega em 2016 à sua 67ª edição reunindo artistas que instigam reflexões sobre a dinâmica urbana e os contextos sociais, políticos e econômicos do mundo moderno. As obras estão expostas no Museu de Arte Contemporânea (MAC) do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, em Fortaleza, até o dia 5 de junho.

“A curadoria procurou avaliar as propostas a partir das qualidades intrínsecas às poéticas particulares, sem determinar um tema específico ou um gênero artístico principal. Um dos diferenciais em relação às edições anteriores talvez seja a quantidade de artistas muito jovens, muitos deles voltados a problemáticas políticas como a especulação imobiliária, a cidade como território de disputa, o racismo, as dinâmicas do capitalismo”, detalha Pablo Assumpção, um dos curadores.

Para esta edição, o Salão selecionou apenas artistas cearenses ou radicados no Ceará. Virgínia Pinho e Célio Celestino foram premiados na mostra e são dois dos 30 artistas participantes. O videoarte A saída da fábrica, de Virgínia, mostra a saída de trabalhadores de uma fábrica de beneficiamento de caju na capital. A obra tem relação com sua pesquisa de mestrado sobre a obra do diretor alemão Harun Farocki, idealizador do filme A saída dos operários da fábrica, de 1995.

“A ideia é pensar a saída da fábrica como um lugar de dissenso. Ela é ao mesmo tempo controlada, mas é também um lugar de fuga, de descontrole. Pensar como esses trabalhadores saem para consumir e voltam no dia seguinte para serem consumidos como força de trabalho. É um movimento que parece apontar para a liberdade, mas ele se repente no dia seguinte e sempre”, disse Virgínia.

Célio Celestino expõe a série de fotografias Cotejo. Os seis quadros mostram figuras indígenas superdimensionadas em ambientes urbanos. As colagens fazem parte de 40 obras que o artista, pesquisador e educador começou – e segue desenvolvendo – a partir da proposta do artista plástico Júnior Pimenta, vencedor do Prêmio de Residência Artística da mostra.

“Percebi que meu trabalho falava muito sobre as questões do Brasil atual, como a desterritorialização indígena, questões raciais. Plasticamente, estava muito bonito, mas decidi pesquisar a fundo, trabalhando a estética e o conceito de problematizar o espaço e as identidades.”

História

A primeira edição do Salão de Abril foi em 1943, em um contexto de grande movimentação artística em Fortaleza, sobretudo pelas atividades dos poetas e escritores que faziam parte da Padaria Espiritual. Fizeram parte da primeira mostra, dentre outros, Raimundo Cela, Antônio Bandeira e o suíço Jean-Pierre Chabloz, incentivador e espécie de mecenas de Chico da Silva.

Até o final da década de 1950, o Salão de Abril foi organizado pela Sociedade Cearense de Artes Plásticas (Scap) e revelou outros grandes nomes, como Aldemir Martins, Mário Baratta e Sérvulo Esmeraldo, além de atrair artistas de outros estados.

A partir de 1958, o evento passou por um hiato de 10 anos, retornando em 1968 sob responsabilidade da prefeitura. Desta edição de recomeço, participam o casal Nice e Estrigas, que faziam parte da Scap, e Descartes Gadelha, entre outros nomes do Ceará.

De lá para cá, a mostra ocorre regularmente, consolidando as artes plásticas no estado. “A importância do Salão de Abril é irrevogável, pois serve não só de oportunidade para conhecermos a produção visual atual, mas também como lugar de encontro, debate, produção de dissenso”, opina o curador Pablo Assumpção.

Para Virgínia Pinho, o Salão de Abril é uma oportunida para artistas locais divulgaram seu trabalho. “Eu, que venho do audiovisual, consigo atingir um público muito pequeno em uma sala de exibição com um curta comparado ao que eu vou conseguir no Salão de Abril. A relação que se estabelece com a cidade a partir desse espaço eu não conseguiria de outra forma.”

Célio Celestino destaca a visibilidade que o Salão de Abril proporciona. “Dentro da minha concepção de artista, esse é o maior reconhecimento local dentro das artes visuais. É um pontapé importante, é instigante e abre as portas para o artista. Esse trabalho pode reverberar em outros cantos.”

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