Uso de terraços nas lavouras vem crescendo na região da Serra

Para uma boa produção de alimentos é preciso antes de tudo cuidar do solo. Quando esquece disso, o agricultor se depara com um grande problema: a erosão, que traz prejuízos ambientais e econômicos. A degradação do solo leva à perda de fertilidade e da produtividade das culturas, pois a melhor camada do solo, que é a superficial, é levada pela chuva, assim como os nutrientes e até mesmo as sementes e a palhada.

Muitos agricultores estão se dando conta de que junto com a terra que é levada nas enxurradas, também vai parte do investimento feito na lavoura e do retorno esperado (produtividade). Por isso, nos últimos anos vem crescendo o número de produtores que estão construindo terraços para minimizar o problema da erosão provocada pela chuva.

O uso dessa prática conservacionista, incentivada pela Emater, conveniada da Secretaria do Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo (SDR), e apoiada por muitas prefeituras, que disponibilizam serviço de máquinas, é fundamental para garantir a sustentabilidade da produção de grãos, podendo também ser utilizada em áreas de pastagens e olericultura. Com a construção de terraços no sentido transversal à declividade do terreno, que dividem a área diminuindo o comprimento de rampa, a água perde a velocidade e a força e não causa danos ao solo.

Mas o engenheiro agrônomo da Emater João Villa alerta que, antes de pensar no terraço, o agricultor já deve fazer uso de todas as práticas de manejo do solo, como descompactação, rotação de culturas, plantas de cobertura para produção de palha e matéria orgânica, e plantio direto. “O terraço funciona como se fosse um goleiro no time de futebol, é o último recurso”, afirma.

Na região da Serra, muitos agricultores já construíram ou estão fazendo terraços nas lavouras, nos municípios de Guaporé, Serafina Corrêa, Montauri, União da Serra, Fagundes Varela, Vista Alegre do Prata e Guabiju. Mas diferentemente de algumas regiões, onde os terraços em nível retêm a água, que infiltra no solo, na região de Guaporé, devido às características de solo e relevo, tem sido feito terraços de drenagem, com um pequeno desnível, que conduzem a água para fora da lavoura, evitando que ela carregue solo e cause danos. Os terraços também servem como um tutor na hora de fazer a semeadura, de forma que o produtor siga a linha e faça o plantio em nível.

Mudanças nas lavouras

Na propriedade da família Romani, na comunidade de Fernando Abbott, em Guaporé, o terraceamento de quase 30 hectares de lavouras já é uma realidade há três anos e meio. As três gerações da família que vivem no local produzem leite e grãos para silagem e para venda, principalmente milho e soja, além de cultivarem pastagens. “Antes da construção dos terraços o problema eram os valos que abriam com a chuva. A gente tinha que trazer terra para poder passar de um lado pra outro na lavoura”, lembra o agricultor Tiago Romani, que também enfrentava o problema da compactação do solo devido ao pisoteio excessivo dos animais.

Conforme Tiago, os terraços foram sugeridos e incentivados pelos extensionistas da Emater do município, que disseram que do jeito que estava eles iam ficar sem terra, só com pedras na lavoura. “O terraceamento parecia um bicho de sete cabeças no início, só que resolveu o nosso problema”, reconhece.

Agora a água da chuva para, escorre lentamente e infiltra e o excesso sai na ponta do terraço e vai para o mato, sem carregar sedimentos. “A produtividade também melhorou, porque a fertilidade da terra fica melhor, pois a água não leva (os adubos e o solo) embora”, ressalta. Tiago diz que, para ele, os terraços não fazem diferença, não dificultam as operações com máquinas (plantio, pulverizações e colheita).

Além do terraceamento, o agricultor também mudou o manejo das pastagens. Ele adotou o pastoreio rotativo e está mantendo mais palhada no solo, que o protege do impacto da chuva e melhora a porosidade devido ao enraizamento, favorecendo a infiltração da água. “Antes eu soltava os animais e aí não ficava palha, eles comiam tudo, aí era mais fácil a água correr. Agora eu deixo as plantas crescerem, colho a semente e deixo a palhada”, explica.

Outro produtor de Guaporé que faz uso dos terraços é Vanderlei Matiello, da localidade de Félix da Cunha. “A nossa meta é, com certeza, cuidar do solo, porque vai ficar aqui. Nós estamos aqui e vamos, mas o solo vai ser pra eternidade. Fizemos isso pensando no futuro, na questão de ter menos custo e produzir mais, porque onde que a água estava lavando eu não vou produzir. Então, a intenção é ampliar a produtividade e cuidar bem do terreno”, conta.

Conforme o técnico da Emater de Guaporé Tiago Oliveira Figueiredo no município, além destes dois produtores, outros quatro já fizeram terraços nas lavouras, e há a perspectiva de mais dois para este ano.

Os agricultores interessados na adoção desta prática podem procurar o escritório da Emater no seu município, para assistência técnica.

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