Marco Antônio Pontes | A política escapa ao racionalismo

Oslo, Noruega - Presidente da República, Michel Temer durante encontro com o Presidente do Parlamento da Noruega, Olemic Thommessen.(Beto Barata/PR)

Tributo a Octavio Malta  (Última Hora, Rio, circa 1960)
Marco Antônio Pontes – [email protected]

 

Opção preferencial

O presidente Temer recuperou a iniciativa na virada da semana e antes de viajar para Rússia e Noruega divulgou duríssimo contra-ataque ao delator e ex-aliado Joesley Batista; em seguida seus advogados processaram-no penal e civilmente.

O juiz federal de Brasília incumbido do caso não encontrou evidências de calúnia, injúria ou difamação nas queixas do presidente, o que parece estranho: talvez reste saber se é calúnia (quer dizer, falsear acusações) mas de difamação certamente se trata, talvez de injúria.

De qualquer modo cabe recurso, e é isso que interessa à defesa de Temer: sobrepor a questão jurídica à política.

Fazendo água

Qualquer avaliação racional, objetiva das perspectivas de sustentação do atual esquema de poder encontra nada favorável a Temer. Ele aparece à opinião pública como o político que se relacionou intimamente com assaltantes do erário e fraudadores de eleições, e a cada semana tem de absorver novos petardos abaixo da linha d’água de sua credibilidade.

Delator delatado

Juridicamente é mais complicado: Temer poderia beneficiar-se de eventual exclusão da gravação da conversa com Joesley, de resto no mínimo imprecisa, com muitos trechos inaudíveis ou truncados; mais ainda o ajudam as investigações de novos crimes cometidos pelos irmãos Batista, antes e durante o processo de colaboração com o Ministério Público – não parece haver dúvida de que, enquanto preparavam as armadilhas em que enredaram Temer, Aécio e bateram mais uns pregos no esquife político de Lula e Dilma, os donos do Friboi engendraram fraudes nas bolsas e no câmbio que lhes renderam muitos milhões de dólares.

Impasse

Com tudo isso, e se esse tudo aponta para inviabilidade do governo Temer, o irracionalismo da atual política brasileira tem potencial para suplantar a lógica e desmentir probabilidades.

As articulações dos principais líderes, interessados em por termo à Lava a Jato e salvarem-se todos – afora inevitáveis ‘bois de piranha’ entregues para que a boiada chegue à outra margem – até poderiam inclinar-se por referendar processo de investigação que pressuporia afastamento do presidente.

Porém aí os articuladores chegam a impasse: o que fazer depois?, quem substituiria Temer?

Terror reverso

Com um atentado terrorista por mês o Reino Unido tenta sair do pior dos mundos, enquanto crescem as reações contra a insanidade do divórcio com a União Europeia.

O último ato insano (até agora; tomara! seja mesmo o último) teve sinal trocado: vitimou inocentes muçulmanos que saíam de uma mesquita após cerimônia do Ramadan, o seu mês sagrado.

O terrorista foi preso; antes, escapou de ser linchado pela intervenção de um imã.

Cobrança pela paz

Louve-se a coragem solidária (solitária) do religioso, que se arriscou ao enfrentar a turba enfurecida para salvar o agressor de um linchamento e entregá-lo à polícia. Que a Justiça o puna, provada sua culpa, como convém à civilização.

E cobre-se da hierarquia do Islã posicionamentos coerentes com os princípios humanitários de sua religião, até para não desmerecer o ato do humilde, até então desconhecido imã. Que atuem mais incisiva, eficaz e efetivamente na pregação a seus fiéis, coloquem-se inequivocamente a favor da paz, da negociação dos conflitos e decididamente contra a violência e a guerra.

Alternativa à guerra

As ações políticas e militares empreendidas contra o radicalismo islâmico, especialmente contra a insanidade do terror, têm-se mostrado inábeis, inúteis, às vezes inoportunas e finalmente inócuas.

A linha de frente da oposição à barbárie tem de ser assumida por quem tem autoridade e legitimidade para combatê-la: os líderes religiosos do Islã, seus teólogos e demais pensadores, capazes de transmitir aos escalões imediatos a mensagem pacificadora condizente com sua fé.

É preciso que em cada mesquita, madrassa e outros espaços de convivência e aprendizado da religião exercite-se a pregação do entendimento, da conciliação, da paz e a condenação enfática do radicalismo e seus nefastos instrumentos.

Escorregão

Na linha daquelas boas intenções que povoam o inferno, uma empresa de Brasília assina um anúncio em jornais que escorrega no otimismo e chega a resultado diverso do pretendido.

Quer-se vender equipamentos que transformam energia solar em elétrica, mas ao mostrar as vantagens de cada residência contar com a própria fonte geradora passa-se a ideia de que já não é preciso poupar energia.

Tudo na exata contramão da preservação dos recursos naturais; os autores da peça publicitária parecem não se dar conta que até o aproveitamento da energia solar, aparentemente a retirar nada da natureza, requer equipamentos que não se fabricam sem apelo aos recursos convencionais.

Que coisa!

Costumo frequentar o site Net música, especialmente a instrumental e nela a dita ‘clássica’ e o jazz. Gosto do que ouço, a seleção é variada e competente.

Também reclamo de seus erros e omissões e volto a fazê-lo: madrugada dessas apresentou-se toda a Nona Sinfonia (Beethoven) como se fosse… a Sonata nº 2 para piano, de Chopin! E bastou variar o gênero musical para que à bela canção Easy to love, de Cole Porter, fosse atribuída outra autoria.

 

Bom, mas…

Aliás, recentemente o site tem revelado especial predileção pela citada sinfonia, a também chamada Coral: programa-a quase todo santo dia (ou santa madrugada).

Nem me queixo muito, posso ouvi-la seguida e repetidamente, madrugadas a fio… Mas alguma variedade é bem vinda.

Inusitado

Não me queixo também porque o Net música às vezes surpreende.

Noite-madrugada dessas apresentou-me a uma Suite para quatro trombones, de Gustav Mahler. Mais: executou-a um improvável Quarteto Brasileiro de Trombones – aliás excelente, na interpretação citada.

Perdoem a ignorância: eu nem lhe imaginava a existência, muito menos de uma composição de Mahler especialmente destinada a reunir quatro virtuoses no sonoro metal.

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