Comunicação & Problemas | Do impensável, inimaginável. E dos leitores, em temas outros

 

Tributo a Octavio Malta (Última Hora, Rio, circa 1960)
Marco Antônio Pontes – [email protected]

 

O impensável

    Melhor nem pensar que o acidente que matou o ministro Teori Zavaski possa revelar-se mais que isso, um acidente. A esta altura dos acontecimentos, com o trágico 2016 a intrometer-se no ano que deveria ser novo, ninguém precisa de mais teorias conspiratórias.

    Até porque o desastre que nos roubou o ilustre jurista, que em meros quatro anos afirmou-se ponto de equilíbrio numa composição bastante problemática do Supremo Tribunal Federal, já traz consequências suficientemente funestas para o precário equilíbrio político nacional.

Trauma para todos

    A morte é séria e não admite tergiversações. Só os familiares e amigos próximos de Teori Zavaski conhecerão plenamente o vazio cavado em suas vidas. Mas toda a nação e cada um de nós, de alguma forma, somos atingidos pela tragédia.

    Por isso é inevitável conjeturar quanta instabilidade o desaparecimento do respeitado ministro acrescenta a um quadro político e jurídico já eivado de incerteza. A par da complicada escolha de novo relator da Lava a Jato e, mais ainda, de seu substituto no Stf.

E agora?

    Para não alongar as conjeturas, registre-se apenas que poderão retardar-se por meses as conclusões da ‘delação do fim do mundo’ – a dos donos e demais executivos da Odebrecht – e suas implicações nos altos escalões do estado.

    E quão problemática será a indicação de um novo ministro do Supremo pelo presidente da República e sua avaliação pelos senadores, quando um e outros são ao menos citados pelos ‘colaboradores’ a serem talvez ‘premiados’ da empreiteira.

Inimaginável

    É bom parar por aqui as lucubrações. Em alguns dias, no máximo umas poucas semanas saberemos porque caiu aquele avião. Os eventos do passado recente induzem a crer na eficiência e lisura dos investigadores, quer da Aeronáutica, quer da Polícia Federal.

    Enquanto isso torçamos para que tenha sido mesmo acidente, como parecem indicar os primeiros relatos de testemunhas sobre as más condições meteorológicas em Paraty na tarde de quinta-feira passada.

    Do contrário os brasileiros estaremos às voltas com algo dramático, inimaginável, impensável.

Na cola do Barão

    – Fraterno amigo, saudades! – escreve-me Renato Vivacqua após longo e tenebroso inverno. Já me sentia abandonado.

    Constato com prazer que o afastamento foi provisório. E no retorno ele capricha na indignação, marca registrada do escritor sempre atento ao cenário nacional:

    – O Barão de Itararé deve estar orgulhoso ao ver surgir entre os grandes frasistas um seguidor dos mais competentes: o doutor Michel Temer. Tem dito parvoíces capazes de corar Nelson Rodrigues. E a mídia sabuja aplaude emocionada. Daqui a pouco Lula vira um grande pensador.

Imprimatur

    Ante a manifestação do fraterno leitor só me resta parodiar aforismo sobre decisões da Justiça, infelizmente desmentido em recente conflito entre os tais ‘interindependentes’ poderes da República:

    opinião de Renato Vivacqua não se discute, publica-se.

À luta

    Bem a propósito recebo a exortação de José Teixeira da Silveira, quanto a esses e demais assuntos que nos provocam indignação:

    – Enquanto tivermos força, vamos esbravejar.

Chegou chegando

    João Carlos Alves Junior, um novo leitor (lê-me a segunda vez, informa), reage ao que escrevi sobre os financiamentos do Bndes a empreendimentos em Cuba, demais América Latina e África:

    […] Quase tudo o que li na imprensa questiona gastar nosso dinheiro lá fora […], quando falta para tudo aqui dentro.

Quase tudo errado

    É bom tê-lo conosco, João Carlos (volte sempre!). E a guisa de boas-vindas digo-lhe que vejo com reservas sua reação, na medida em não endosso quase tudo o que se lê na imprensa sobre Cuba.

    A mim parece que investir em projetos na América Latina e África está conforme os objetivos estratégicos do Brasil a médio, longo prazo e serve à necessária solidariedade entre povos que partilham traços culturais, interesses econômicos e propostas políticas no concerto internacional. E no curto prazo abre oportunidades de expansão do intercâmbio econômico, inclusive para além dessas nações.

Curto e seco

    Economista brilhante, com larga experiência entre outros temas no planejamento do desenvolvimento e para meu orgulho assíduo leitor desta coluna, o velho amigo Onaldo Pompílio apoia-me nesta polêmica (ele é seco e sintético se o assunto é sério):

    – Correta sua interpretação da política governamental de apoio financeiro (Bndes) a Cuba e países africanos.

Idiotices

    – Pois é: afora as imprevidências – reclama Cláudio Machado, velho colega do Ipea, arguto crítico de nossas mazelas –, vêm as idiotices de autoridades, como a do jovem secretário nacional [para quem] deveria ocorrer uma chacina a cada mês, de modo a esvaziar os presídios.

    Como veem, ele aproveita para acrescentar precisão ao que escrevi semana passada a respeito da asnice do tal (agora ex-) secretário.

 

Idiota dinâmico

    A observação do afiado Machado remete-me a velha conversa entre colegas do Ipea.

    Cláudio, o citado Onaldo, Jorge Cavalcante, Gilvan Cordeiro… e este – diria, num arroubo de imodéstia – autonomeado memorialista do grupo queixávamos da ineficiência da máquina estatal quando alguém colocou em pauta a figura do ‘idiota dinâmico’. Identificou-o mais ou menos assim:

    – Acontece nas melhores instituições, cada qual tem seu idiota mas geralmente ele é passivo, soma inação à estultice; incomoda, mas é inofensivo. Porém se o idiota fala, formula e, pior, faz – e costuma fazer rápida e incontrolavelmente – o desastre é fatal.

 

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