Jogos Paralímpicos: o sonho que custa apenas R$ 2 mil

Cláudio Ireneu da Silva

Empregado do Metrô-DF e atleta paralímpico, Cláudio Ireneu da Silva faz campanha para levar a tocha definitivamente para casa

Brasília (DF) – A vida lhe provou de todas as formas, desde muito cedo. Destruiu sonhos. Fez surgir outros e, quando ele menos esperava, deu a ele  mais uma grande oportunidade. Há dois dias, ele mal dorme, mal come. A ansiedade e a emoção estão estampadas na sua cara. Nesta quinta (01/09),  Cláudio Ireneu da Silva, empregado concursado do Metrô-DF (lotado na Divisão de Serviços de Apoio – ADSA), será um dos atletas de Brasília que carregarão a tocha dos Jogos Paralímpicos.

A confirmação chegou por e-mail, nesta segunda (29/08), enviado pela coordenação do Comitê Rio 2016. Cláudio mal acreditou. Mas era verdade. Ele será uma das 700 pessoas, em todo o país, que conduzirão um dos símbolos dos jogos. “É um privilégio único fazer parte dessa história e ainda mais no Brasil”, ele diz.

É a consagração para o homem de 48 anos, casado, dois filhos, que, aos 21 anos, num partida de futebol, viveu o maior drama de sua vida. Numa peladinha entre amigos, num domingo, o pior iria acontecer. Foi parado por um jogador do outro time, que o acertou em cheio.

Saiu dali, daquele campo de terra batida em Ceilândia, direto pra emergência do hospital. Havia quebrado a perna esquerda. Numa imperícia, engessaram-na de forma errada. Dias depois, veio uma gangrena e, em seguida, a amputação. Era o fim para o rapaz que começava a jogar profissionalmente no Ceilândia Esporte Clube.

Cláudio teve que mudar planos, refazer rotas e driblar a vida. Diariamente. Foi preciso aprender a se equilibrar num par de muletas e depois numa perna emprestada. E decidir que, dali pra frente, ela seria a sua companheira constante.

Campeão

Um dia, que soube que, no Rio de Janeiro, havia a Seleção Brasileira de Futebol para Amputados. Foi lá. Convocaram-no. Jogou de 1990 a 2005. Conheceu boa parte do mundo. Campeão em quatro Copas do Mundo. “Eu não tive tempo para ficar me lamentando.”

E seguiu a vida. “Mas o meu sonho era participar dos Jogos Paralímpicos”, conta. Como futebol para amputados não faz parte dos jogos, Cláudio mudou de esporte. Foi para o vôlei – competição na qual todos os jogadores ficam sentados. E, mais uma vez, ele foi brilhante. Esteve nos Jogos Pan-Americanos do Rio, em 2007, onde ficou em sexto lugar. E, em 2008, nas Olimpíadas de Pequim, de onde a equipe voltou campeã.

Agora, longe das quadras, veio a melhor das suas homenagens. “Eu ainda nem to acreditando direito”, ele diz, visivelmente emocionado, pensando nos 200 metros em que ela ficará sob o seu comando.

Mas Cláudio ainda quer realizar mais um sonho. Talvez o definitivo. Cada um dos 700 atletas pode levar a tocha para casa. Não haverá réplica. São únicas confeccionadas pelo Comitê Rio 2016.  Só que ela custa R$ 2 mil, o que é caro para o atleta. “Eu gostaria muito de poder levar para sempre. Será a realização de um ciclo, que está chegando ao fim. O elo final da minha história como atleta”.

Aos 15 anos, Cláudio era zagueiro revelação de um time de futebol de Ceilândia. Aos 20, jogando como profissional e promessa de ser levado para clubes de fora do DF, sofreu uma entrada maldosa. Amputou a perna. Mudou radicalmente a sua vida. Mas ele decidiu viver. E perdoar: “Existem sempre quatro paredes para chorar. E eu aprendi que todo mundo cai, tendo ou não duas pernas. A questão é a intensidade dessa queda”.

E confessa, emocionadamente: “No dia em que quebrei a perna, tive muita raiva do cara que fez isso comigo. No dia que amputei, eu o perdoei pra sempre. Não havia mais o que fazer. Precisava seguir para continuar a minha vida”.

Cláudio seguiu a vida com a sua perna emprestada. E aprendeu, lá atrás, a melhor das lições: para que serve o perdão. Tornou-se, a partir daí, campeão disparado da melhor história que tem para contar. Há quem não tenha perna emprestada e nunca aprenderá isso.

Por uma boa causa

Se você puder ajudar Cláudio a levar definitivamente a tocha para casa, pode depositar qualquer quantia na conta dele, no Banco de Brasília. Conta: 001152-9. Agência: 130

Texto: Marcelo Abreu/Ascom/Metrô-DF
Foto: Paulo Barros/Ascom/Metrô-DF

Seja o primeiro a comentar on "Jogos Paralímpicos: o sonho que custa apenas R$ 2 mil"

Faça um Comentário

Seu endereço de email não será mostrado.


*