OPINIÃO | A saúde pública e a disputa política

Por Ricardo Callado


Reclamações e irregularidades na saúde pública do Distrito Federal são recorrentes. Não é de hoje. O atual e governos anteriores têm na saúde um dos principais calos. Podemos dividir o assunto em três temas: disputa política e sindical, disputa empresarial e má gestão. Foi assim ontem. E está sendo assim até hoje.

A atual crise tem um pano de fundo político. Mas não deixa de ser uma oportunidade de colocar a saúde pública nos eixos. No caminho que o setor merece.

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Saúde é sim um palco onde se atacam mutuamente oposição e governo. E é também uma oportunidade que se escancara para iniciar um debate sério. Não se pode se desmoralizar uma CPI. É preciso, apenas, separar o midiático do que é realmente merece ser discutido e investigado. Essa é a sua função.

A CPI é um instrumento institucional presente no Poder Legislativo desde a Constituição de 1934. Através dela, parlamentares agem em nome da respectiva instituição, investigando e fiscalizando a gestão do bem público. E tomando as medidas necessárias para punição dos culpados, caso algo esteja realmente errado.

Fala-se em pagamento de propina na saúde, e não é de hoje. O vice-governador Renato Santana disse que sim. A presidente do Sindicato dos Servidores da Saúde, Marli Rodrigues, afirma o mesmo. E o ex-secretário Fábio Gondim também cita a prática usando outros termos. O Judiciário precisa ser acionada.

Basta uma simples pesquisa ou consulta no Tribunal de Justiça do Distrito Federal para vê a quantidade de processos de irregularidade na Secretaria de Saúde. E em muitos governos. O ex-governador Agnelo Queiroz (PT), por exemplo, se enrolou em vários casos.

Empresas terceirizadas se perpetuam nos serviços prestados ao setor, mesmo com mudanças de governos. São interesses poderosos e milionários. Sindicalistas e gestores se misturam na administração da área. Cada um favorecendo o seu lado. É um saco de gatos. E é preciso passar isso a limpo. Cada um respondendo pela a sua responsabilidade.

Se o caso veio à tona nesse momento é devida a uma disputa política forte. A eterna briga pelo poder ou por interesses contrariados. O Palácio do Buriti decidiu bancar uma guerra com a Câmara Legislativa desde os primeiros dias de governo.

O governo tomou posse e comprou a ideia burra de não fazer política. De se enclausurar e tratar a Câmara como se fosse o que de pior existe. Não foi uma boa estratégia.

A estratégia da discórdia é sempre a pior escolha. O diálogo, principalmente em um momento de crise o qual assumiu o Executivo, seria a melhor opção que o governador Rodrigo Rollemberg poderia ter tomado. O problema é de origem. E as pessoas que colocaram o Buriti nessa enrascada, acabam de voltando contra o governador.

Depois disso os ânimos só se acirraram. O governo faz de conta que respeita a Câmara, que por sua vez perde a credibilidade no Executivo por acordos não cumpridos ou pela metade. Enquanto isso, os deputados dificultam de forma aberta a vida do Buriti. E quem perde é sempre a sociedade.

Soma-se a isso uma relação complicada entre o governador e seu vice, Renato Santana. Existe cordialidade, mas falta sintonia. Santana tem vida própria. Seu projeto político não é esse governo, mas o próximo. Seja com ele hoje ou com o seu líder político, Rogério Rosso, em 2018.

Acrescenta-se, ainda, a presidente do sindicato, Marli Rodrigues, que saiu gravando tudo e todos. E um conjunto de gravações que saiu do computador da entidade sindical de forma estranha.

Não ficou claro se as gravações foram entregues ao Ministério Público antes ou após as gravações serem divulgadas pela imprensa. E que tipo de uso seria feito com essas gravações, caso elas não tivessem se tornadas públicas. Até porque algumas delas foram gravadas há meses, ainda na gestão do ex-secretário Gondim.

Não se pode comprovar que existe uma conspiração entre distritais, sindicato e o vice-governador. Nem que o conteúdo das conversas gravadas possam gerar provas. O importante é que seja feita uma investigação séria. E isenta.

Na Câmara Legislativa tem gente séria para fazer isso. É hora de deixar a política de lado e pensar no cidadão humilde que precisa de atendimento em hospitais e postos.

No Ministério Público tem gente competente que pode fazer isso. E com experiência em investigações na área de saúde em governos anteriores. Vamos passar a saúde a limpo e que for podre que se quebre.

Câmara e MP tem a missão de colocar a saúde no rumo. O governo colaborando com um modelo de gestão que se diferencie dos anteriores, enfrentando as máfias que se perpetuam na Secretaria de Saúde. E o sindicato defendendo o servidor. Se não cumprirem a sua missão, todos perdem.

Mas quem perde ainda mais é a sociedade que continuará com problemas no atendimento na rede pública e viverá com a descrença em suas instituições.

Seja o primeiro a comentar on "OPINIÃO | A saúde pública e a disputa política"

Faça um Comentário

Seu endereço de email não será mostrado.


*