Psicólogos de UTI amenizam o sofrimento dos familiares em Goiás

Goiânia (GO) – Impotência mesclada ao desespero, angústia e apreensão. O misto de sensações é um resumo de relatos de qualquer acompanhante ou familiar de uma pessoa hospitalizada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Literalmente frio, o lugar assusta por ser palco de histórias com fins trágicos para aqueles que são obrigados a se despedir inesperadamente dos entes queridos.

Nesses momentos em que o desespero e a agonia tomam conta, o apoio e o conforto fazem toda a diferença. Diante do momento vivenciado, a família também precisa de cuidados intensivos. A assistência psicológica tem papel fundamental ao contribuir com o equilíbrio emocional dos envolvidos, que também inspiram cuidados. Uma simples conversa com o psicólogo se torna uma experiência única. É com diálogo e sensatez que os profissionais ganham nova roupagem ao cruzar o status de estranho para o de amigo.

Apesar disso, não basta oferecer o ombro para consolo. Com a aproximação, a técnica aliada à sensibilidade dos profissionais oportunizam ao acompanhante a expressão dos conflitos, fantasias e temores e em troca, pela confiança, eles recebem atenção e compreensão diante das queixas que resultam em alívio e tranquilidade às ansiedades.

Fundamental para a saúde mental, a equipe formada por nove profissionais será homenageada pelo Materno Infantil com um café da manhã especial que será oferecido nesta segunda-feira, dia 29, para lembrar a data oficial que celebra a profissão, 27 de agosto.

O dia a dia na UTI
Há dois meses, a dona de casa Maura Ramos passa os dias na UTI Pediátrica do HMI. Ela acompanha o filho que está internado no local desde o nascimento devido a uma má-formação do intestino. Natural de Caçu, em Goiás, ela encontra apoio junto às psicólogas da unidade. O marido e pai da criança faz visita de vez em quando porque trabalha e cuida dos outros dois filhos do casal no interior do Estado.

“Agora, é bem mais fácil para mim ser forte”, afirma Maura Ramos, que recebe apoio psicológico do HMI

“Agora, é bem mais fácil para mim ser forte”, afirma Maura Ramos, que recebe apoio psicológico do HMI. Fotos: Ascom HMI

Ela descobriu o problema da criança aos cinco meses de gestação e desde então luta pela vida do filho. À época, a família morava em Altamira, no Pará, de onde partiram de volta à cidade natal para conseguir tratamento mais adequado ao bebê. De lá, foram encaminhados para o HMI. O pequeno J.V. nasceu no hospital e, da sala de parto, foi encaminhado para a UTI.

“Ainda em Altamira me disseram que ele tinha obstrução do intestino, mas o médico do HMI confirmou que se tratava de uma má formação do órgão. Quando ele me deu a notícia foi muito difícil. Entrei em desespero e chorei bastante”, disse Maura. Na situação dela, é comum o medo do desconhecido, a incerteza sobre o sucesso do tratamento, o diagnóstico de doença grave, além do temor de que a criança sinta dor ou morra.

Agora, a dona de casa se sente mais confiante e tranquila. “Na UTI, comecei a receber visitas das psicólogas do hospital. Elas conversaram comigo e me ajudaram bastante. Hoje eu consigo até ajudar os outros da mesma forma que fui ajudada”, afirma ela, que considera a assistência psicológica importante para os acompanhantes.

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Suely Faria é a coordenadora de Psicologia do HMI

Assistência psicológica
O momento de interação com a equipe de Psicologia favorece a elevação da autoestima e autoconfiança dos participantes. “A aceitação dos próprios sentimentos é o primeiro passo para aprender a lidar com eles”, destaca a coordenadora de Psicologia do Hospital Materno Infantil (HMI), Suely Faria.

Menos estresse, segundo a especialista, ajuda os acompanhantes a se tornarem capazes de desempenhar um papel vital e terapêutico junto ao doente. “Os membros de uma família são interdependentes, por isso, o problema de um afeta os outros. Dessa forma, a atenção voltada ao núcleo familiar resulta em melhor qualidade na assistência porque exala força, superação, confiança e racionalidade ao paciente”, acrescenta.

Por isso, nos dias em que tudo parece mais complicado, Maura diz que o apoio psicológico é mais importante. “Às vezes a gente desaba, mas elas [as psicólogas] vêm e nos acalmam. Sou muito nervosa e ansiosa e como elas me ajudam a relaxar, eu consigo passar isso para meu filho. Quando eu choro, percebo que ele também fica triste”, afirma. A mãe de J.V.  conta como ela lida agora com a antes constante vontade de chorar. “Me orientaram assim: se eu quiser chorar, não tem problema, mas que seja longe dele e, ao retornar, sorrindo eu contribuo indiretamente com a recuperação dele”, descreve.

Ponto de Vista
De acordo com Suely, uma das abordagens utilizadas pela equipe é a de que a UTI não representa o término de uma viagem, mas pode ser o recomeço dela porque ressignifica as relações entre as pessoas. Embora receba pacientes potencialmente graves ou com instabilidade clínica, o serviço de suporte e tratamento intensivos tende a garantir chances de sobrevivência e recuperação. Outros aspectos trabalhados pelos psicólogos nesse contexto incluem a reflexão sobre a vida e a morte e o enfrentamento a situações emocionalmente traumáticas da vida dos próprios acompanhantes e familiares.

Equipe de psicólogas do HMI

Equipe de psicólogas do HMI

Assim, eles se dão conta de que não estão sozinhos e encaram o problema com coragem. ”Nosso objetivo é diminuir o impacto sofrido com a doença e com a internação. Aqui, além de todo o contexto, podemos estabelecer os acompanhantes e a família como moderadores do processo já que são importante fonte de informação para o paciente”, afirma Suely.

Prioridades 
Embora sofrida, a experiência tem sido positiva para Maura. Ela está aprendendo a dar mais valor nas coisas importantes da vida que são a família e os filhos, a perdoar, a amar mais o próximo porque entende não ser a única a passar pela mesma situação e a parar de brigar por coisas banais já que visualiza que a luta das pessoas internadas no hospital é pela sobrevivência. “Hoje, posso dizer que eu e meu filho melhoramos bastante. Está sendo um aprendizado para a vida toda. Agora, é bem mais fácil para mim ser forte. Meu filho está me ensinado a viver. O que servir para mim, vou lutar, o que me fizer mal vou descartar e pronto.”, sentencia a mãe de J.V.

Valorização do atendimento hospitalar com bases de fraternidade corresponde a uma parte dos elementos de humanização da assistência não apenas ao corpo, mas também à mente. Isso inclui medidas como a flexibilidade para permanência de acompanhantes na UTI para mulheres com enfermidade relacionada à maternidade e crianças, que podem contar com a presença em tempo integral de um dos pais ou responsáveis.

Mais informações: (62) 3921-2147

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